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O principe messiânico em Ezequiel



O “PRÍNCIPE” MESSIÂNICO EM EZEQUIEL



QUEM É?



O “Príncipe” de Ezequiel – Quem é?



I. Introdução

A idéia de que o futuro rei da linhagem de Davi, o Messias será uma pessoa de carne e osso parece perturbar muito os cristãos e os missionários em geral; afinal de contas, se Jesus é o Messias ele não é uma pessoa comum de acordo com a crença cristã tradicional, mas sim, um ser híbrido – meio humano, meio divino. Entretanto, mesmo sendo parte humano, Jesus não poderia ter filhos (segundo afirmam) e sendo alegadamente parte divino, ele não poderia cometer iniqüidades.

Nesse estudo, um dos personagens centrais da segunda parte do livro de Ezequiel (caps. 40-48), chamado de “príncipe” [נָשִׂיא (nasí)] será estudado e identificado. Nosso foco será esse personagem que aparece várias vezes no livro de Ezequiel nas seções onde o profeta apresenta os eventos que ainda ocorrerão durante a Era Messiânica, dando ênfase à reedificação do Templo sagrado em Jerusalém, seus serviços rituais e outros fatos relevantes relacionados ao advento dos Dias do Messias.

II. Uso do termo נָשִׂיא (nasí) na Bíblia Hebraica

O substantivo נָשִׂיא (nasí) ocorre cerca de 130 vezes no texto hebraico das Escrituras, em várias declinações tanto no singular נָשִׂיא (nasí), quanto no plural נְשִׂיאִים (nesiim)¹. Dessas 130 vezes em que o vocábulo ocorre na Bíblia Hebraica, 37 estão no livro de Ezequiel. A palavra נָשִׂיא (nasí) pode ter várias traduções mas todas elas sempre descrevem alguém com autoridade, desempenhando um papel de liderança. Eis algumas das possíveis traduções: cabeça ou chefe de uma tribo, líder de uma comunidade, chefe de estado (p.ex., um governante, um rei, etc). No hebraico moderno, נָשִׂיא (nasí) significa “presidente” (seja de uma organização, entidade ou nação). Um sinônimo de נָשִׂיא (nasí) no hebraico bíblico é o termo נָגִיד (nagid), encontrado 44 vezes na Bíblia Hebraica, uma das quais se acha no livro de Ezequiel, em referência ao rei de Tiro (cap. 28:2). A tabela II.1 mostra o substantivo נָשִׂיא (nasí) como o mesmo aparece por toda a Bíblia Hebraica:



¹ Há também uma outra aplicação do plural נְשִׂיאִים (nesiim), tanto no hebraico bíblico quanto no moderno. Em alguns casos, o termo significa “nuvens de chuva” como ocorre em Jer 10:13; 51:16; Sal 135:7; Pro 25:14. Essas quatro referências não serão consideradas nesse estudo.





Tabela II.1 – Aplicações do termo נָשִׂיא (nasí) na Bíblia Hebraica


Livro


judeus

chefes
gentios

TOTAL
?
reis
chefes de tribo
outros
chefes
outras
pessoas
Gênesis




1
3
4
Êxodo


3
1


4
Levítico


1



1
Números


61


1
62
Josué


12


1
13
1 Reis

1
1



2
Ezequiel1-39

8
1


8
17
Ezequiel 40-48
17/1
2




20
Esdras



1


1
I Crônicas


3

1

4
II Crônicas


2



2
Total
18
11
84
2
2
13
130


Os dados que obtemos à partir da tabela acima demonstram (com exceção das 18 referências listadas sob “?”) os seguintes fatos:


· O uso mais comum para o termo נָשִׂיא (nasí) na Bíblia Hebraica é em relação aos chefes de tribos ou clãs israelitas. 

Há 84 ocorrências.

· As únicas aplicações de נָשִׂיא (nasí) a um monarca judeu ocorrem em I Reis (uma vez) e em Ezequiel (10 vezes). O termo nunca é usado em relação ao rei na Torá ou nos demais livros.
· Ezequiel usa o termo apenas uma vez em relação aos chefes de tribos e oito vezes em relação aos líderes gentios.


III. O “Príncipe” em Ezequiel 40-48

Em hebraico um substantivo pode assumir formas diferentes dependendo da preposição que o antecede ou caso o mesmo venha ou não acompanhado de artigo definido (o, a, os, as). Em Ezequiel 40-48, o vocábulo נָשִׂיא (nasí) aparece ligado ao artigo definido הַ (ha-), que significa “o” e também com a preposição לַ (la-) que significa “para”, “por” ou “pelo”. Ainda ocorrem casos em que a palavra נָשִׂיא (nasí) é precedida por uma dessas duas preposições e também pela conjunção וְ (vê-), traduzida normalmente como “e”. Há ainda uma única ocorrência de נָשִׂיא (nasí) sem artigo ou preposição – nesse caso, traduz-se como “um príncipe”. A tabela III.1 mostra como o termo aparece em Ezequiel 40-48, em todas as formas descritas acima.







Tabela III.1 – Formas do termo נָשִׂיא (nasí) no Livro de Ezequiel


Hebraico
Pronúncia
Tradução
#
Referências
הַנָּשִׂיא
ha-nasi
O príncipe
9
44:3; 45:17,22; 46:2,4,8,12,16,18
וְהַנָּשִׂא
veha-nasi
E o príncipe
1
46:10
לַנָּשִׂיא
la-nasi
para o príncipe
6
45:16; 46:17; 48:21 (2 x); 48:22 (2 x)
וְלַנָּשִׂיא
vela-nasi
E para o príncipe
1
45:7
נַשִׂיא
nasi
um príncipe
1
44:3
TOTAL
18
Ezequiel 40-48

Agora, já estamos capacitados a buscar pistas para identificarmos o “príncipe” ao qual o profeta Ezequiel faz referência.

A. A Busca pelas Pistas

Todas as referências mostradas na tabela III.1 acima são analisadas no estudo à seguir. Para fins de clareza e precisão, toda vez que alguma forma do termo נָשִׂיא (nasí) ocorrer em nossa análise, a mesma será destacada com um realce assim, na cor verde.

A primeira pista que temos para identificarmos corretamente quem é o “príncipe” mencionado por Ezequiel encontra-se no contexto dos capítulos 40-48. Esses capítulos finais do livro descrevem com amplos detalhes um dos eventos mais marcantes da Era Messiânica, ou seja, a reedificação do Templo sagrado em Jerusalém. Logo,

Pista # 1 – O “príncipe” é alguém que viverá na Era Messiânica

A primeira ocorrência do termo נָשִׂיא (nasí) nesta porção de Ezequiel (caps. 40-48) pode ser encontrada em Eze 44:3. Este verso em particular apresenta também a única ocorrência do termo sem artigo e sem preposição, como demonstrado na tabela III.1, acima:

Ezequiel 44:3 “O príncipe, por ser ele um príncipe, se assentará ali para comer pão na presença do Eterno. Ele entrará pelo caminho do pórtico do portão, e pelo mesmo caminho sairá”

Esta passagem é parte da visão que Ezequiel teve acerca do Terceiro Templo. Ele descreve o Portão Oriental, onde antes havia estado (Eze 44:1), o qual fechou-se em definitivo após ter por ele entrado a Shekhiná, a glória de D-us (Eze 44:2). Aprendemos à partir do texto citado acima que o “príncipe” devido à sua exaltada posição, tem permissão para acessar o interior do pórtico (ou, vestíbulo) do portão oriental do Templo a fim de ali,






“comer pão” na presença do S-nhor D-us. A frase “comer pão” significa participar da refeição sacrificial, ou simplesmente, comer da carne dos sacrifícios. Linguagem semelhante a essa onde “pão” refere-se aos sacrifícios pode ser encontrada em Lev 3:11; 21:6 e Num 28:2, entre outros.
Contudo, nem mesmo ele pode acessar o Templo pelo portão oriental do lado de fora; deverá entrar no pátio interno através das entradas norte ou sul, para então ter acesso ao interior do pórtico do portão oriental. Assim, encontramos nossa segunda pista:

Pista # 2 – O “príncipe” será alguém que devido à sua posição exaltada, poderá participar da carne dos sacrifícios oferecidos no Templo.

As duas passagens a seguir, tratam da porção de terra que pertencerá ao “príncipe”, suas dimensões, formas e localização:

Ezequiel 45:7 “Para o príncipe, porém, será a parte deste lado e do outro da área santa e da possessão da cidade, defronte da área santa e defronte da possessão da cidade, tanto ao lado ocidental, como ao lado oriental; e de comprimento corresponderá a uma das porções, desde o termo ocidental até o termo oriental”.

Ezequiel 48:21-22 “O que restar será para o príncipe; desta e da outra banda da santa oferta, e da possessão da cidade; defronte das vinte e cinco mil canas da oferta, na direção do termo oriental, e para o ocidente, defronte das vinte e cinco mil, na direção do termo ocidental, correspondente às porções, isso será a parte para o príncipe; e a oferta santa e o santuário do templo estarão no meio. A possessão dos levitas, e a possessão da cidade estarão no meio do que for para o príncipe. Entre o termo de Judá e o termo de Benjamim será a porção que irá para o príncipe”.

A porção de terra destinada ao “príncipe” será de tamanho idêntico ao das tribos, entendidas na divisão da terra como “porções”. Assim, como diz Eze 45:7, “de comprimento corresponderá a uma das porções” isto é, das tribos; Na porção de terra concedida ao “príncipe” estará encravada a faixa de terra correspondente às habitações dos sacerdotes levitas e o local onde encontram-se Jerusalém e o santuário. A porção do “príncipe” fará fronteira ao sul com Judá e ao norte com Benjamim. Assim, chegamos à terceira pista:

Pista # 3 – O “príncipe” receberá uma porção de terra de tamanho semelhante ao das demais tribos.









As passagens abaixo demonstram que o “príncipe” desempenhará certas funções características dos sacerdotes levitas:

Ezequiel 45:16-17 e 22 “Todo o povo da terra dará esta contribuição para o príncipe de Israel. Tocará ao príncipe dar os holocaustos, as ofertas de cereais e as libações, nas festas, nas luas novas e nos sábados, em todas as festas fixas da casa de Israel. Ele proverá a oferta pelo pecado, a oferta de cereais, o holocausto e as ofertas pacíficas, para fazer expiação pela casa de Israel... E no mesmo dia o príncipe proverá, por si e por todo o povo da terra, um novilho como oferta pelo pecado”.

Ezequiel 46:4 e 12 “E o holocausto que o príncipe oferecer ao Senhor será, no dia de sábado, seis cordeiros sem mancha e um carneiro sem mancha; (...) Quando o príncipe prover uma oferta voluntária, holocausto, ou ofertas pacíficas, como uma oferta voluntária ao Senhor, abrir-se-lhe-á a porta que dá para o oriente, e oferecerá o seu holocausto e as suas ofertas pacíficas, como houver feito no dia de sábado. Então sairá e, depois de ele ter saído, fechar-se-á a porta”.

Será que isso quer dizer que o “príncipe” em questão deve ser um sacerdote? Não, de forma alguma. Há outros registros na Bíblia Hebraica que mostram reis desempenhando funções que são exclusivas dos sacerdotes:

II Sam 6:14 “E Davi dançava com todas as suas forças diante do Senhor; e estava Davi cingido dum éfode de linho”.

II Sam 6:17 “Introduziram, pois, a arca do S-nhor, e a puseram no seu lugar, no meio da tenda que Davi lhe armara; e Davi ofereceu holocaustos e ofertas pacíficas perante o S-nhor”.

I Rs 8:63-64 ”Ora, Salomão deu, para o sacrifício pacífico que ofereceu ao S-nhor, vinte e dois mil bois e cento e vinte mil ovelhas. Assim o rei e todos os filhos de Israel consagraram a casa do S-nhor. No mesmo dia o rei santificou o meio do átrio que estava diante da casa do S-nhor; porquanto ali ofereceu o holocausto, a oferta de cereais e a gordura das ofertas pacíficas, porque o altar de bronze que está diante do S-nhor era muito pequeno para nele caberem o holocausto, a oferta de cereais, e a gordura das ofertas pacíficas”.

I Rs 9:25 “E Salomão oferecia três vezes por ano holocaustos e ofertas pacíficas sobre a altar que edificara ao S-nhor, queimando com eles incenso sobre o altar que estava perante o S-nhor, depois que acabou de edificar a casa”.

Davi e Salomão, além de suas funções normais como reis de Israel também desempenharam certas funções sacerdotais, ainda que as mesmas não estivessem em pé de igualdade com aquelas demais responsabilidades



características do sacerdócio levítico. É certo deduzir que as funções sacerdotais extraordinárias desempenhadas por Davi devem ser o modelo ideal a ser seguido pelo rei de Israel, que além de soberano temporal também deveria ser um elo de ligação entre o povo e seu D-us. Por certo, o modelo inspirado em Davi e Salomão será seguido pelo “príncipe” no Terceiro Templo.

Além das especificações detalhadas da forma que o “príncipe” deverá entrar no Templo a fim de participar dos manjares e sacrifícios, Ezequiel determina ainda que o “príncipe” entrará no santuário da seguinte forma nos dias de Lua Nova e aos sábados:

Ezequiel 46:2 e 8 “E o príncipe entrará pelo caminho do vestíbulo da porta, por fora, e ficará parado junto da ombreira da porta, enquanto os sacerdotes ofereçam o holocausto e as ofertas pacíficas dele; e ele adorará junto ao limiar da porta. Então sairá; mas a porta não se fechará até a tarde (...) Quando entrar o príncipe, entrará pelo caminho do vestíbulo da porta, e sairá pelo mesmo caminho”.

Enquanto que nos “tempos determinados”, isto é, nas festas fixas e feriados sagrados (Lev 23), o “príncipe” entrará no Templo de uma forma diferente:

Ezequiel 46:10 “Ao entrarem eles, o príncipe entrará no meio deles; e, saindo eles, sairão juntos”.

Notamos por esses textos que o “príncipe” é alguém de fato muito importante e especial; entretanto, nos dias das festas sagradas, ele deverá estar misturado aos demais adoradores, algo que sem dúvida, faz parte da função exaltada e honrosa de um líder. Chegamos assim à nossa quarta pista:

Pista # 4 – O “príncipe” será alguém que ocupará um cargo de liderança entre o povo judeu, e oferecerá sacrifícios POR SI MESMO e também pelo povo.

Como notamos anteriormente, o “príncipe” receberá uma porção da Terra de Israel, porção essa cujo tamanho será equivalente ao das tribos; Vejamos agora, o que ele poderá fazer com essa terra:

Ezequiel 46:16-18 “Assim diz o S-nhor D-us: Se o príncipe der um presente a algum de seus filhos, é herança deste, pertencerá a seus filhos; será possessão deles por herança. Se, porém, der um presente da sua herança a algum dos seus servos, será deste até o ano da liberdade; então tornará para o príncipe; pois quanto à herança, será ela para seus filhos. O príncipe não tomará nada da herança do povo para o forçar para fora da sua possessão; da sua própria possessão deixará herança a seus filhos, para que o meu povo não seja espalhado, cada um da sua possessão”.





Esta passagem nos fornece importantes informações acerca do “príncipe”. Note, primeiramente, que ele terá filhos, descendentes que receberão herança dele, na forma de territórios. O “príncipe” não poderá dispor da terra de outras pessoas para dar herança aos seus filhos ou para dar de presente para algum servo seu. Os filhos do “príncipe” herdarão conforme o território concedido ao seu pai, devendo ficar a terra em questão para sempre como posse de seus descendentes e familiares. Observe ainda que caso o “príncipe” queira dar um presente para um de seus servos em forma de terra, a mesma deverá voltar como posse da família no ano do jubileu (ou, “ano da liberdade”), conforme o costume exposto na Torá (Lev 27:24 e 25:10-13; 25:24-28).

Isso demonstra duas verdades: a Torá e suas ordenanças e mandamentos estarão ainda em efeito mesmo na Era Messiânica, e o próprio “príncipe”, mesmo sendo um alto dignatário judeu, estará ele mesmo sujeito e submisso às mesmas ordenanças e mandamentos transmitidos por Moisés. Chegamos assim à nossa quinta pista na identificação do “príncipe”:

Pista # 5 – O “príncipe” terá filhos e estará sujeito às Leis da Torá.

Até o momento coletamos cinco pistas que podem nos ajudar na identificação do “príncipe” representado por Ezequiel como um grande vulto que viverá durante a Era Messiânica. Essas cinco pistas poderiam ser resumidas desta forma:

O “príncipe” será um líder de Israel durante a Era Messiânica. Ele será totalmente humano, tendo filhos e recebendo como posse uma porção de terra em volta da área do Templo. Ele terá alguns privilégios e obrigações relacionados ao Templo e às suas funções, estando sujeito às leis da Torá, desempenhando algumas atribuições exclusivas dos sacerdote, inclusive oferecendo ofertas pelo pecado, por si mesmo e pelo povo.

Mas apesar dessas evidências, será que poderíamos identificá-lo sem nenhuma objeção com as provas que temos até o momento? Não, não há como fazê-lo. Nós poderemos no máximo, reduzir as opções a talvez três possibilidades, talvez. O “príncipe” poderia ser por exemplo, o sumo-sacerdote, ou o Messias ou quem sabe ainda um alto dignatário judeu, sobre o qual não temos maiores informações. Contudo, precisamos de uma resposta mais precisa para a questão: Quem é o “príncipe” descrito por Ezequiel? Uma identificação mais clara e específica se faz necessária.

B. Identificando o “Príncipe”

Os capítulos 40-48 de Ezequiel são nitidamente messiânicos. Mas, esse não é certamente o único material messiânico no livro daquele profeta. Outras passagens messiânicas aparecem ao longo dos capítulos anteriores (1-39). A tabela III.B-1 mostra todas as passagens onde o termo נָשִׂיא (nasí) ocorre na porção entre os capítulos 1-39, quando aplicado aos monarcas judeus.




Tabela III.B-1 – נָשִׂיא (nasí) aplicado aos monarcas judeus em Eze 1-39


Heb.
Pronúncia
Tradução
#
Ezequiel
Identificação
נָשִׂיא
nasi
um príncipe
2
34:24/37:25
O Messias (Davi)
הַנַּשִׂיא
ha-nasi
o príncipe
1
12:10
Zedequias
וְהַנָּשִׂיא
ve-ha-nasi
e o príncipe
1
12:12
Zedequias
נְשִׂיא
nesi
príncipe de...
1
21:30
Zedequias
נְשִׁיאֵי
nesiei
príncipes de...
3
19:1/21:17
22:6
Reis de Judá (*)

TOTAL
8
Eze 1-39


(*) Jeoiaquim, Zedequias e Jeoacaz.


Das oito passagens acima onde o termo נָשִׂיא (nasí) ocorre, apenas duas são messiânicas, à saber, Eze 34:24 e 37:25 e as outras estão dentro de um contexto histórico. Essas duas passagens messiânicas serão analisadas agora a fim de sabermos se elas contém informações adicionais que possam nos ajudar a identificar o quem é o “príncipe” ou נָשִׂיא (nasí), conforme diz Ezequiel.

Ezequiel 34:23-24 “E suscitarei sobre elas um só pastor para as apascentar, o meu servo Davi. Ele as apascentará, e lhes servirá de pastor. E eu, o Senhor, serei o seu Deus, e o meu servo Davi será príncipe no meio delas; eu, o Senhor, o disse”.

Ezequiel 37:24-25 “Também meu servo Davi reinará sobre eles, e todos eles terão um pastor só; andarão nos meus juízos, e guardarão os meus estatutos, e os observarão. Ainda habitarão na terra que dei a meu servo Jacó, na qual habitaram vossos pais; nela habitarão, eles e seus filhos, e os filhos de seus filhos, para sempre; e Davi, meu servo, será seu príncipe eternamente”.

Esta última passagem faz parte da visão do vale de ossos secos, uma das profecias mais precisas e plena de vívidas imagens relativas ao exílio e à restauração do povo judeu, culminando com a vinda do “príncipe” cujo protótipo ideal é “Davi”, descrito aqui como “servo de D-us”, já em plena Era Messiânica. Ezequiel usa linguagem semelhante em ambas as passagens, e as mesmas em muito se assemelham àquelas encontradas na segunda seção do livro, correspondentes aos capítulos 40-48. As passagens analisadas tratam da dignidade de alguém que detém o poder político e espiritual. O Messias deve cumprir exatamente essas duas funções pois seu papel será duplo dentro do programa messiânico, ou seja, ele deve ser um grande guia espiritual além de ser naturalmente um chefe de estado. Ele será o pastor que guiará Israel, e Davi é o protótipo, o modelo perfeito para essas funções. Vemos também que ambas as passagens trazem no original o termo נָשִׂיא (nasí), o qual foi estudado detalhadamente. O termo caracteriza “Davi”, uma referência muito comum usada em relação ao futuro libertador de Israel, o Messias.




C. Breve Refutação de Argumentos Cristãos


Sabemos que os cristãos acreditam que Jesus (יש`ו) era o Messias predito nas Escrituras Hebraicas. Entretanto, ao analisarmos o príncipe messiânico da profecia de Ezequiel surgem problemas intransponíveis para a doutrina cristã que dificilmente conseguirá conciliar o programa divino para o Messias com aquilo que (supostamente) se deu na vida de Jesus, bem como com tudo o que pregou ou que teria sido pregado por seus imediatos seguidores. Por exemplo:

1. Aprendemos que o príncipe messiânico será um ser humano normal, e não D-us – até porque ele mesmo prestará culto a D-us no Templo (Eze 46:9-10). Não é isso o que se diz de Jesus, visto que grande parte dos cristãos cultuam a Jesus como se fosse uma espécie de “deus”.

2. Nos dias do príncipe messiânico, o Templo será reedificado e funcionará conforme o prescrito na Lei de Moisés, incluindo ofertas para expiação do pecado, as quais serão oferecidas normalmente tanto pelo povo quanto pelo próprio príncipe! (Eze 45:22-23); Jesus disse que o culto a D-us não estaria mais centrado no Templo, em Jerusalém; o NT diz que Jesus aboliu o sistema sacrificial levítico, cumprindo-o em todas as suas minúcias. Jesus também acreditava não ter pecado algum, e cristão algum admitiria a hipótese de vê-lo oferecendo sacrifícios por si mesmo. Logo, como isso poderia ser aplicado a Jesus?

3. O príncipe messiânico segundo Ezequiel, terá filhos – segundo o NT, Jesus não teve filhos e desaconselhava o casamento.

4. O príncipe de Ezequiel oferecerá sacrifícios como dissemos anteriormente – mas tais sacrifícios serão de acordo com o sacerdócio levítico, e não segundo uma suposta “ordem de Melquisedeque” como se afirma acerca de Jesus.

5. O príncipe receberá uma porção da Terra de Israel como parte de seus privilégios de Messias, a qual poderá passar em herança aos seus filhos. Nada se diz no NT sobre Jesus recebendo terras em Israel e muito menos passando-a para seus “filhos” que nem mesmo existem ou existirão.

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